sábado, 26 de abril de 2008

Do livro do poeta 5


A arte de ser


As cores suaves deste “ai...”
Dizem logo não haver lágrima.
De vera ilusão ela tece o dia
E a mesa posta guarda silêncio,
Até que a música diga “sim...”
A moça rara lê mais um livro.
Sendo amor e ideal mais que palavras,
A paisagem do mundo ganha cor
E a vida se mostra a arte de ser.

sábado, 5 de abril de 2008

Do livro do poeta 4



"O espírito da paz"

Agrada nela o passeio da Lua.
É promessa de sins duradouros.
A tristeza dos dias se assenta,
Se cala, à espera, ferida de paz.
Nasce, assim, a primeira canção.
Saltou os montes, à procura, a voz
E nesse encontro o mundo parou.

Certa manhã, o Sol descansou.
Entre nuvens, silente, parando,
Deixou a ela a missão: clarear
Toda alma que buscasse o ser
De luz que no querer se perdeu.
Tantas canções semeou, no olhar,
Que o vento, feminino, acolheu.

Nela a vida é meditação lunar.
Graça de pássaro, veio repousar.
Somada a beldade ao ar de certeza,
O encanto, só espírito, perdura.
Nasce, assim, a sétima canção.
Vestida de pérolas, a moça alvorece
— e o mundo, sereno, vai dormir...

Soneto de Gaspara Stampa (1524-1554)


SONETO CLXVI


Acuso Amor e aquele que amo tanto:
Amor, de me prender com nó tão forte,
Ele, de em vez de vida dar-me a morte
Ao furtar-se de mim por novo encanto.

Depois reflito e aos dois perdão garanto
E a mim mesma me culpo dessa sorte
Pois, sem forças que em meu socorro exorte,
Em mim descubro a causa de meu pranto.

Se um pouco mais tivesse de humildade
Em lugares talvez menos subidos
Poderia esperar maior piedade;

Faetonte, Ícaro e eu, por atrevidos,
— eu no presente, eles na Antigüidade —
Com fogo alto demais fomos punidos.